quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Fernando Gonsales, criador do Níquel Náusea, no Sesc Vila Mariana

A exposição Fauna Urbana, de Fernando Gonsales, retrata os animais urbanos se comportando como seres humanos.


Por Marília Marques

Dentre desenhos de ratos, baratas e insetos, a mostra conta com 50 tiras de quadrinhos, publicadas no jornal desde 1985, e dois painéis. Gonsales, num humor ácido, dá nome aos personagens a partir de paródias de objetos ou situações característicos da cidade.

Níquel Náusea é o cartum mais conhecido do desenhista, sendo uma sátira à Mickey Mouse, mesmo não admitindo ser um camundongo como o famoso de Walt Disney. O autor diz gostar de “tratar o ser humano como um animal”, portanto, dá pra perceber que o oposto também vale.

De modo bem-humorado, as ilustrações mostram os bichos em seus lugares habituais: baratas em esgotos, insetos voando pela cidade. Entretanto, de maneira exagerada, causando o riso. Outro fato que não é comum é que todos os animais falam. Pode parecer óbvio por serem protagonistas de suas obras, porém humanos também interagem com eles – não sendo tão comum assim.


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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Escolha (des)necessária

O capitalismo tardio e a sociabilidade moderna confrontam-se formando um paradoxo: o atraso para desenvolver-se interfere no âmbito sociocultural de uma nação? O Brasil possui um dos maiores PIBs do mundo, porém é muito mal distribuído entre as parcelas da população. Com a implementação do Real como moeda, proporcionando uma estabilidade econômica, apareceram os financiamentos. Para roupas, automóveis e aparelhos eletrônicos, dentre os mais almejados. Com isso, o poder de compra é estendido para além das classes alta e média-alta – que sempre tiveram seus pertences desejados pelas outras camadas da sociedade, estas que, por sua vez, agora, obtiveram condições de possuí-los também. Acontece que, a partir desse momento, a parcela menos favorecida economicamente passa a não dar o valor necessário para os itens básicos de uma qualidade de vida justa.
Foto por http://www.rodrigao.net/

O “endeusamento” de produtos importados ou, muitas vezes também, consumidos pela elite da população, faz com que, já que conseguiram obter financiamento em suas compras, escolham os bens de consumo ao invés de investir a longo prazo. O consumo ganha valor de status, na forma de carros não-populares, por exemplo, os quais atribuem ao dono maior nível social. O grande objetivo da nossa sociedade, mas não só da nossa, é o sucesso pessoal. Com isso, perdem a noção de exigir aquilo que é necessário e começam a ter uma formação de pensamento imediatista.

Esses indivíduos que se envolvem em credenciamentos, estão pensando apenas a curto prazo, sem considerar o tempo de vida dos produtos. Além disso, muitas vezes, não possuem o dinheiro necessário todo mês, acumulando dívidas nos bancos. Tal ocorrência pode gerar uma crise nos bancos, que terão de ser salvos pelo capital do governo, o qual deveria ser investido em assuntos – que deveriam ser exigidos por toda a população – como educação igualitária, saneamento básico, salários mais dignos, e até mesmo, mais empregos. No entanto, as classes baixas se inspiram nas altas para se sentirem incluídas, por meio de aparelhos tecnológicos, por exemplo, ou no campo da moda, inspiradas pelos programas de televisão, formando o paradoxo subdesenvolvimento (inclusive social) – modernidade (importada, copiada), no qual: um indivíduo pode morar em condições precárias na periferia da cidade, sem rede de esgoto, sem ter tido uma educação descente, e sem poder proporcioná-la a seu(s) filho(s), porém, uma televisão de LCD, um celular recém-lançado e, às vezes, um carro do ano, ele possui, obtidos por meio de parcelas miúdas e duradouras.
Foto por http://outroladodanoticia.wordpress.com
A extrema desigualdade social encontrada no Brasil, faz com que as elites não precisem optar entre bens de consumo ou formação social, qualidade de vida, e as classes baixas sejam obrigadas a fazer essa escolha. Como a nossa sociedade é imediatista, por conta do capitalismo (tardio), a parcela de baixo poder aquisitivo do país, tendo já uma baixa perspectiva de vida, devido às péssimas condições de moradia e segurança, escolha pelo consumo compulsivo de bens desnecessários à sobrevivência, porém importantes para a auto-estima, abalada pelo preconceito social.

A globalização segue as tendências, desejadas por todas as classes sociais e “inventadas” periodicamente, tanto pelas indústrias de bens de consumo, quanto pela indústria cultural – transformando arte e cultura em bens materiais. Entretanto, essa destruição criadora exploradora ocupa apenas uma parte da essência do homem. O que lhe falta é uma identidade brasileira, comportamental, cultural ou estética, como busca Graciliano Ramos, em Vidas Secas, o homem “humano” - a totalidade do homem, um universalismo inerente à época dele, como uma obra-prima, que, em qualquer época, fará sentido para a sociedade presente.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Paredes das ruas x paredes de uma galeria: Titi Freak na Choque Cultural

Por Nathalia Bianchi
A exposição SEMPRE por Titi Freak está em cartaz na Choque Cultural, famosa por ser uma galeria alternativa, que costuma exibir obras de artistas urbanos e contemporâneos. Titi Freak é conhecido no mundo underground por ter sido de extrema importância na construção da identidade da arte pop brasileira dos dias de hoje, contribuindo com suas pixações, tags e grafites pela cidade de São Paulo, iniciados em 1995.

Por ser uma mostra individual, ocupa os três andares da galeria, e seus trabalhos realmente precisam desse espaço. Seus painéis chegam a ocupar paredes inteiras, como encontra-se logo no andar térreo. A riqueza de cores, contrastes e texturas é um marco de sua atual obra, assim como em Corrente Paralelo, andar térreo.

O monitor Rodolfo Pacolla, 22 anos, já foi grafiteiro também e conhece o artista. Na atual exposição, conta que Titi Freak afirma “não há nada que marque meu trabalho, se eu sentir que parei, eu morro”, justificando sua diversidade artística, em que cada época trabalha de uma nova maneira. Revela a preferência do autor das obras por retratos e que, nessa fase, está mais abstrato do que nunca – fato que pode ser observado no peixe feito em duas paredes de uma sala especial localizada no primeiro andar, quase indecifrável.


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O glamour em contraste com a competência: profissão repórter

A comunicação como forma de mudança atrai os jovens


“O jornalismo é a arte e a ciência de contar a realidade”, diz Alberto Dines, criador do site Observatório da Imprensa, no início do debate, aberto ao público, que aconteceu na 21ª Bienal do Livro de São Paulo, com o tema “Para Ser Repórter”. Contando também com a participação de Caco Barcellos, Raphael Prado, que participa do programa Profissão Repórter, e Lílian Romão, criadora da revista Viração, a mesa discutiu a importância dessa profissão que, ao passo que celebriza o indivíduo, tem que ser cuidadosamente executada.


A grande mídia não dá
espaço para os novos
comunicadores


Caco no debate “Para Ser Repórter”
Segundo Caco Barcellos, o trabalho do jornalista é observar a realidade e proporcionar diversas interpretações a seu interlocutor. Ao criar o programa Profissão Repórter, exibido pela Rede Globo, sua intenção era obter o envolvimento dos jovens, novos nessa carreira – pois acredita que são eles que aproximam o público das histórias apresentadas, sob olhares diferentes. Este é um exemplo da participação de novos comunicadores na grande mídia, a qual se encontra, cada vez mais, de difícil acesso para eles. “Os maiores meios de comunicação parecem ser fechados para quem acabou de se formar, parece que acham que nós não vamos nos adaptar a essa imposição de fazer notícia da maneira deles”, comenta Julio Medeiros, 20 anos, estudante de jornalismo.


Com a grande formação de novos jornalistas, a concorrência é muito alta para se conseguir um emprego na área – ainda mais com a não-exigência do diploma atualmente, quando ocorre a ocupação de vagas por aqueles que não frequentaram alguma faculdade de comunicação para se especializar na área. A influência dos telejornais, os quais exibem repórteres, inclusive aqueles que são correspondentes internacionais, acaba por instigar as pessoas a querer aparecer na televisão, sem o compromisso de fazer boas reportagens, de relevância para a sociedade e com o empenho jornalístico adequado.


Raphael Prado, Caco Barcellos, Alberto Dines, Armando
 Antenore, Lílian Romão e Simone debatem a profissão

“Acho que os grandes veículos de informação não estão interessados na dedicação do estudante de comunicação em realizar um jornalismo fiel”, diz Maria Fernanda Dias, 22 anos, estudante de jornalismo. E, de fato, parecem não estar mesmo. Um jornalismo “fiel”, como caracterizado pela aluna, remete à ideia de notícias imparciais e de importância social para a população. Não é o que acontece ao tornarem-se notícias de capa de jornais, muitas vezes, assuntos relacionados à novelas que estão em exibição nos maiores veículos midiáticos.