terça-feira, 24 de agosto de 2010

Escolha (des)necessária

O capitalismo tardio e a sociabilidade moderna confrontam-se formando um paradoxo: o atraso para desenvolver-se interfere no âmbito sociocultural de uma nação? O Brasil possui um dos maiores PIBs do mundo, porém é muito mal distribuído entre as parcelas da população. Com a implementação do Real como moeda, proporcionando uma estabilidade econômica, apareceram os financiamentos. Para roupas, automóveis e aparelhos eletrônicos, dentre os mais almejados. Com isso, o poder de compra é estendido para além das classes alta e média-alta – que sempre tiveram seus pertences desejados pelas outras camadas da sociedade, estas que, por sua vez, agora, obtiveram condições de possuí-los também. Acontece que, a partir desse momento, a parcela menos favorecida economicamente passa a não dar o valor necessário para os itens básicos de uma qualidade de vida justa.
Foto por http://www.rodrigao.net/

O “endeusamento” de produtos importados ou, muitas vezes também, consumidos pela elite da população, faz com que, já que conseguiram obter financiamento em suas compras, escolham os bens de consumo ao invés de investir a longo prazo. O consumo ganha valor de status, na forma de carros não-populares, por exemplo, os quais atribuem ao dono maior nível social. O grande objetivo da nossa sociedade, mas não só da nossa, é o sucesso pessoal. Com isso, perdem a noção de exigir aquilo que é necessário e começam a ter uma formação de pensamento imediatista.

Esses indivíduos que se envolvem em credenciamentos, estão pensando apenas a curto prazo, sem considerar o tempo de vida dos produtos. Além disso, muitas vezes, não possuem o dinheiro necessário todo mês, acumulando dívidas nos bancos. Tal ocorrência pode gerar uma crise nos bancos, que terão de ser salvos pelo capital do governo, o qual deveria ser investido em assuntos – que deveriam ser exigidos por toda a população – como educação igualitária, saneamento básico, salários mais dignos, e até mesmo, mais empregos. No entanto, as classes baixas se inspiram nas altas para se sentirem incluídas, por meio de aparelhos tecnológicos, por exemplo, ou no campo da moda, inspiradas pelos programas de televisão, formando o paradoxo subdesenvolvimento (inclusive social) – modernidade (importada, copiada), no qual: um indivíduo pode morar em condições precárias na periferia da cidade, sem rede de esgoto, sem ter tido uma educação descente, e sem poder proporcioná-la a seu(s) filho(s), porém, uma televisão de LCD, um celular recém-lançado e, às vezes, um carro do ano, ele possui, obtidos por meio de parcelas miúdas e duradouras.
Foto por http://outroladodanoticia.wordpress.com
A extrema desigualdade social encontrada no Brasil, faz com que as elites não precisem optar entre bens de consumo ou formação social, qualidade de vida, e as classes baixas sejam obrigadas a fazer essa escolha. Como a nossa sociedade é imediatista, por conta do capitalismo (tardio), a parcela de baixo poder aquisitivo do país, tendo já uma baixa perspectiva de vida, devido às péssimas condições de moradia e segurança, escolha pelo consumo compulsivo de bens desnecessários à sobrevivência, porém importantes para a auto-estima, abalada pelo preconceito social.

A globalização segue as tendências, desejadas por todas as classes sociais e “inventadas” periodicamente, tanto pelas indústrias de bens de consumo, quanto pela indústria cultural – transformando arte e cultura em bens materiais. Entretanto, essa destruição criadora exploradora ocupa apenas uma parte da essência do homem. O que lhe falta é uma identidade brasileira, comportamental, cultural ou estética, como busca Graciliano Ramos, em Vidas Secas, o homem “humano” - a totalidade do homem, um universalismo inerente à época dele, como uma obra-prima, que, em qualquer época, fará sentido para a sociedade presente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário